Ele realizou o sonho do avô

Trabalhar na maior fábrica de Itaperuna foi uma das conquistas do técnico de segurança Bruno Souza.

 

O técnico de segurança do trabalho Bruno Cesar de Paula Souza, da fábrica da Quatá de Itaperuna (RJ), guarda viva na memória uma lembrança de quando tinha 6 anos de idade. Era final dos anos 1980, e ele acompanhava o avô em um passeio de charrete pela cidade quando pararam na frente da indústria de laticínios Fleischmann Royal. “Meu sonho é ver você um dia trabalhando aqui”, lhe disse o avô.

Aquela era a maior fábrica da cidade e continua sendo até hoje, agora sob o comando da Quatá. “Era impressionante ver aqueles funcionários com o uniforme todo branquinho”, lembra Bruno. “Para famílias como a minha, trabalhar aqui era mais desejado do que um emprego no Banco do Brasil.”

Bruno teve uma infância feliz, mas dura. Seu pai, que estudou até a quarta série do ensino fundamental, é pedreiro, e a mãe, que não teve estudo, trabalha como empregada doméstica. Criaram três lhos, incluindo ele. “Fui ter o meu primeiro chinelo aos 10 anos de idade”, ele recorda. “Até então, vivia descalço.”

Começou a trabalhar aos 12 anos, ajudando uma tia a vender relógios, bonés e outros produtos em uma feirinha da cidade. Aos 13, ele se inscreveu em um programa Guarda Mirim, semelhante ao atual Jovem Aprendiz, e pelos cinco anos seguintes atuou como ajudante em um escritório de contabilidade, no Sebrae da cidade e em uma imobiliária.

Aos 18 anos, realizaria o sonho do avô. Começando como terceirizado, um ano depois foi contratado pela maior fábrica da cidade. Primeiro foi ajudante de produção, em seguida passou pela área de controle de qualidade e, desde 2007, atua como técnico de segurança do trabalho. O gosto e a disposição para aprender coisas novas sempre foram um dos diferenciais de Bruno, que atualmente faz curso tecnológico de gestão ambiental de olho nas oportunidades profissionais que enxerga nessa área dentro da própria Quatá. “Quero me aposentar aqui”, a firma.

 

“Para famílias como a minha, trabalhar aqui era mais desejado do que um emprego no Banco do Brasil.”

 

A vida pessoal também é repleta de conquistas. Bruno se casou aos 26 anos de idade com Miriã, que conheceu em um encontro de jovens da Igreja Metodista Wesleyana. O casal tem dois lhos: Bruno, de 12 anos, e Gustavo, de 6. “A família é o meu alicerce”, ele conta.

Em um terreno que comprou ainda quando solteiro, construiu aos poucos a casa onde mora, de 110 m2, com dois quartos, uma suíte, sala, cozinha, banheiro e garagem, devidamente estreada em 2015 com a compra de um Fusca azul, ano 1974, que fez muito sucesso na família. “O primeiro carro a gente nunca esquece”, justifica Bruno, que hoje é dono de um Palio.

Bruno com a esposa Miriã e os lhos Bruno e Gustavo

 

A igreja é outra presença importante na vida da família. Bruno é superintendente da escola bíblica dominical. Nessa função, dá aulas e supervisiona o trabalho de outros professores, que costumam receber pessoas com a vida desestruturada e as orientam no caminho da fé e da reinserção social.

Quando olha sua vida em perspectiva, tem muita satisfação em ver o que conquistou. E uma alegria especial ao recordar o dia em que começou a trabalhar naquela fábrica e recebeu quatro mudas daquele uniforme branquinho, dando tanto orgulho ao seu avô, hoje falecido. “Na primeira vez que ele me viu com a roupa, os olhos dele até lacrimejaram”, ele descreve. Era a imagem do neto subindo na vida.