Overaldo e suas seis mulheres

A mulher, as três filhas e as duas netas, uma delas no céu, fazem o auxiliar de produção da Quatá de Douradoquara sentir-se um homem realizado

 

O auxiliar de produção Overaldo Natalino Pereira, de 46 anos, entrou na Quatá de Douradoquara (MG), em 1996, para substituir um funcionário que havia se afastado temporariamente. “A pessoa que me contratou perguntou: ´Você aceita vir trabalhar aqui por dez dias?´ Eu respondi que sim, e olha no que deu”, ele conta, rindo. O que deu foram, até agora, 24 anos de trabalho na empresa que foi seu segundo emprego.

 

Overaldo é natural da própria Douradoquara. Sua mãe, já falecida, era viúva e tinha três filhos adolescentes quando engravidou dele e de seu irmão gêmeo. O pai, no entanto, não assumiu suas responsabilidades, e eles foram criados só pela mãe, que trabalhava como doméstica para sustentar a família.

 

Aos 15 anos, ele se empregou em uma fábrica de artesanato em bambu. Seis anos depois, havia decidido sair e tinha deixado seu currículo em empresas da cidade quando recebeu o convite da Quatá e decidiu arriscar.

 

Nessa época, já estava casado com Rosivone, uma ex-vizinha que conhecia desde criança, e tinha se tornado pai fazia dois anos. Sua filha mais velha, Lorena, tem hoje 26 anos, é casada e formada em pedagogia. Overaldo e a esposa têm muito orgulho das conquistas da filha no campo dos estudos. “Tanto eu quanto a Rosivone só estudamos até a sexta série”, ele diz. “Ver a nossa filha se formar na faculdade foi uma emoção enorme.”

 

Por ter um irmão gêmeo, Overaldo sempre soube que havia chances maiores de também ser pai de gêmeos. E foi o que aconteceu em 2003, quando a esposa engravidou novamente. “No dia em que recebemos a notícia, tomamos um susto”, ele lembra. “Depois, foi alegria em dobro.” Outro susto ocorreu quando as gêmeas Leandra e Lerrayne nasceram prematuramente, aos sete meses, e tiveram de ficar um mês internadas até receberem alta.  Mas cresceram com saúde e este ano terminam o ensino médio. “Ainda estão em dúvida sobre que carreira seguir”, diz o pai.

 

Em 2016, a filha mais velha engravidou, mas o bebê, que se chamaria Maria Clara, faleceu no sexto mês de gestação. Em 2018, Lorena teve Valentina, que é a alegria do vovô e de toda a família. “Eu considero que tenho duas netinhas”, ele afirma. “A Maria Clara só não está com a gente. Virou um anjinho que mora com o Papai do Céu.”

 

Com o emprego na Quatá e o trabalho da esposa, que é concursada da Prefeitura de Douradoquara e atua em serviços gerais, além de educar as três filhas, a família alcançou conquistas das quais Overaldo também se orgulha muito. Construíram a casa onde moram, com três quartos e uma área no fundo onde costumam fazer churrasco e realizar eventos para reunir famílias e amigos, e compraram um carro em 2008. Em 2016, trocaram o veículo por um modelo 0 km. Overaldo costuma viajar de férias todos os anos com a família. O destino mais frequente é Caldas Novas, em Goiás, para onde já foram cinco vezes.

 

Sobre os planos e desejos para o futuro, ele pensa, primeiro, em continuar dando o suporte para as filhas gêmeas seguirem estudando até concluírem a faculdade. “Depois, quero comprar um rancho para ir nos finais de semana”, ele diz. “Até hoje, tudo o que planejamos nós conseguimos. Tenho certeza de que vamos conseguir realizar esse sonho também.”

 

“A pessoa que me contratou perguntou: ´Você aceita vir trabalhar aqui por dez dias?´ Eu respondi que sim, e olha no que deu.”

 

Overaldo com a esposa, Rosivone, na formatura da filha Lorena

 

Com a esposa e a neta, Valentina

 

Overaldo e as gêmeas Lerrayne e Leandra