A mãe do Incrível Hulk

A vida de Daniela Lima, assistente de PCP do laticínio de Bom Jesus, antes e depois do dia em que o filho começou a lutar contra o câncer.

 

A assistente de PCP Daniela Fátima de Souza Lima, de 39 anos, trabalha na logística do laticínio de Bom Jesus dos Perdões (SP). Ela viveu uma infância feliz com os pais, que, como muitos brasileiros, passaram por dificuldades financeiras. Começou a trabalhar cedo, só conseguiu começar a fazer faculdade aos 29 anos, casou-se, teve dois filhos. Em setembro do ano passado, quando tudo parecia bem, recebeu uma notícia terrível. Lucas, o filho caçula, então com 2 anos, foi diagnosticado com leucemia, um tipo de câncer que atinge a formação das células do sangue. “A minha vida virou do avesso”, lembra Daniela.

 

O câncer de Lucas é tratado com quimioterapia, e ele já passou por três fases de tratamento. Na primeira, ficou dois meses internado para sessões diárias, acompanhado da mãe o tempo todo. Na segunda, já em casa, ia ao hospital quatro vezes por semana para receber o tratamento; na terceira, duas vezes; e atualmente encontra-se na chamada fase de manutenção, com uma sessão por semana.

 

A situação atual é muito positiva. Graças à força de Lucas, que durante a internação dizia ser o “Incrível Hulk”, à dedicação da família e ao trabalho da equipe médica, os exames mostram que a doença está sob controle.

 

O super-herói Lucas e seu parceiro Hulk

 

O tratamento completo deve durar dois anos, e a certeza da cura só virá num prazo de cinco anos. Mas Daniela agora sente o coração menos apertado e tem fé que o pior já passou. E já retomou a rotina que tinha antes da descoberta da doença. “Eu agradeço todos os dias o apoio que recebi e continuo recebendo de muita gente, em especial dos meus chefes e colegas da Quatá”, ela diz. “Foram maravilhosos comigo. Humanos, generosos, tiveram uma empatia enorme”. Daniela nasceu na cidade de São Paulo, filha única de seu Domingos e dona Santina. A família mudou duas vezes de cidade, primeiro para Votuporanga (SP), quando ela tinha 4 anos, e depois para Bom Jesus, aos 12, por dificuldades de emprego enfrentadas pelo pai, que alternava a atividade de metalúrgico com a de trabalhador rural.

 

Depois de fazer alguns bicos cuidando de crianças, aos 16 anos ela começou a trabalhar: primeiro, em uma indústria têxtil e, em seguida, em uma grande indústria de vidros, onde aprendeu o ofício de planejamento e controle de produção (PCP).

 

Casou-se com Gilmar, tiveram o primeiro filho, Diego, e quando o menino estava com 2 anos e ela, com 29, Daniela entrou na faculdade. Queria fazer ciências contábeis, mas, por questão de horário, acabou ficando com a segunda opção: administração de empresas. Recebeu muito apoio do marido e dos pais para conciliar a rotina de faculdade, o trabalho e os cuidados com a casa e o filho. Depois dela, foi a vez de Gilmar também cursar a faculdade, na área de logística.

 

O filho mais velho, Diego, adora fazer desenhos como este

 

Ainda na gestação do filho mais velho, começaram a obra de ampliação da casa de dois cômodos em que moravam, no terreno da casa do pai de Daniela. Levantaram mais dois cômodos e, em 2017, tiveram Lucas. Alguns meses após o retorno da licença-maternidade, foi dispensada da indústria de vidros, que enfrentava dificuldades econômicas, após quase 12 anos de trabalho.

 

Atuou durante alguns meses em uma loja de venda de botijões de gás de uma amiga, enquanto buscava uma oportunidade em sua área. Depois de deixar o currículo na portaria do laticínio da Quatá, ela foi chamada para entrevista. E a contratação ocorreu em agosto de 2018.

 

“A oncologia me ensinou que o problema na vida é quando não temos saúde. O resto é contratempo”

 

Quando pensa no futuro, o principal desejo de Daniela, claro, é receber a notícia da confirmação da cura do filho. Mas ela também quer voltar à faculdade, para fazer nova graduação ou pós na área de ciências contábeis.

 

Ao refletir sobre o que aprendeu no último ano, ela lembra de uma frase que leu em um site sobre câncer que passou a acompanhar. “A oncologia me ensinou que o problema na vida é quando não temos saúde. O resto é contratempo”, cita a mãe do Incrível Hulk.