Adoro encontrar os meus meninos

 

É assim que a auxiliar de serviços gerais Antonia Dias se refere aos seus colegas mais jovens da Quatá de Campo Belo (MG).

 

Em 2012, Antonia Candida Almeida Dias estava saindo de uma depressão quando um amigo de sua filha mais velha bateu na porta de sua casa. Ele trabalhava na Quatá e tinha tentado, sem sucesso, localizar uma vizinha dela para falar sobre uma vaga de serviços gerais que havia sido aberta na empresa. Aproveitou a viagem para visitar a amiga e, durante a conversa, perguntou a Antonia se ela não se interessava pelo trabalho.

 

“Eu fiquei com medo”, ela lembra. “Por causa da depressão, achava que não daria conta.” Pois não só deu conta como se tornou uma das pessoas mais queridas da unidade – e encontrou no trabalho e no contato diário com “os meus meninos”, como costuma chamar os colegas mais jovens, um novo significado para a sua vida, superando a depressão.

 

Antonia passou por muitas dificuldades, mas também comemora importantes conquistas. Ela nasceu em Campo Belo mesmo, em uma família de dez irmãos. Aos 11 anos de idade, perdeu o pai, que era a única fonte de sustento da família, mas, graças à força de sua mãe, a família permaneceu unida, cada um fazendo sua parte para colaborar com o sustento da casa. Ela passou a fazer bicos cuidando de crianças e, aos 15 anos, arrumou um emprego como babá e empregada doméstica em uma casa na qual permaneceu por 27 anos.

 

“Eu devo muito ao apoio da minha mãe, dos meus irmãos e da minha família o fato de ter conseguido sair da depressão. E o emprego na Quatá acelerou a minha cura.”

 

Na vida pessoal, tinha 18 anos quando, em uma festa de São João, conheceu Catarino, com quem se casaria dois anos depois. Inicialmente, foram viver em um casebre na roça, mas Antonia não se adaptou e acabaram morando com a mãe dela na cidade. Após dois anos, tiveram Katielly, a quem puderam proporcionar as condições de estudo que a vida lhes negou. Tanto Antonia quanto Catarino pararam de estudar ao final da quarta série, para começar a trabalhar. Já a filha mais velha, hoje com 29 anos, aproveitou a oportunidade que teve para se dedicar aos estudos e formou-se em Direito.

 

Foram dez anos morando com a mãe até Antonia e o marido conseguirem comprar a casa própria por meio de financiamento, hoje quitado. No novo lar, tiveram Maysa, atualmente com 17 anos, que completa a família.

 

Em 2007, atravessaram um momento difícil quando Catarino sofreu infarto e precisou se submeter a uma cirurgia de urgência. Dois anos depois, foi a vez de Antonia adoecer. “Eu sempre fui muito ansiosa e acabei entrando em depressão”, ela conta. Por causa da doença, foi demitida do trabalho e, embora tenha buscado tratamento com psicoterapia e medicação, foram necessários dois anos para superar a fase mais profunda da doença. “Eu devo muito ao apoio da minha mãe, dos meus irmãos e da minha família o fato de ter conseguido sair da depressão”, ela agradece. “E o emprego na Quatá acelerou minha cura.” Em 2017, Antonia perdeu a mãe, aos 81 anos, e teve medo de afundar novamente, mas se manteve forte. “Nós éramos muito próximas, tenho muita saudade dela”, diz.

 

Antonia com os irmãos e a mãe já falecida

 

Sonhos para o futuro? Um deles começou a ser realizado há um mês: a ampliação da casa. “Hoje, tem dois quartos, vamos construir um terceiro onde fica a cozinha e fazer uma cozinha nova, bem maior”, Antonia descreve. Quem está fazendo a obra, em seus dias de folga, é Catarino, que trabalha como pedreiro.

 

Outro sonho não depende dela. “Quero ser avó”, avisa. “Quanto tiver um netinho, eu paro de trabalhar.” Mas os “meninos” de Antonia na Quatá não precisam se preocupar. A caçula ainda é muito nova e a filha mais velha já avisou que não pretende se casar tão cedo. “Ela gosta de passear, quer aproveitar bem a vida antes de ter filho”, explica Antonia. “Esse sonho ainda está longe”.