Da infância no sítio aos vídeos de TikTok com as filhas

Alguns momentos marcantes da vida simples e feliz do operador de caldeira Lúcio Cordeiro, do laticínio de Vazante

 

A vida simples e feliz de um homem que cresceu num sítio e hoje mora na cidade de Vazante, em Minas, e se realiza por meio sobretudo da dedicação à família. Assim pode ser resumida a trajetória do operador de caldeira Lúcio Xavier Cordeiro, um torcedor do Cruzeiro muito alegre e bem humorado, que brinca já ter sido fenômeno do futebol, dançarino de vídeos para o aplicativo TikTok e contador de piadas de gosto duvidoso.

Lúcio nasceu na cidade de Morada Nova de Minas, como filho caçula de uma família de doze irmãos, quatro deles falecidos ainda na infância, que ele nem chegou a conhecer.“- Minha diferença para o segundo mais novo é de onze anos”, ele conta. “Meu pai dizia que eu era a raspa do tacho”.

Viveu até os 25 anos de idade no sítio onde sua família cultivava frutas, legumes e verduras e criava porcos e galinhas para consumo próprio. De umas poucas vaquinhas, tiravam cerca de 20 litros de leite por dia, que vendiam a fim de obter o dinheiro necessário para comprar outros produtos. A partir da adolescência, moravam só ele e os pais no sítio, pois todos os irmãos já tinham se mudado para outros locais. “Era uma vida bem simples, mas muito feliz”, ele diz. “O sítio ficava perto da cidade, então meus amigos vinham depois da aula para jogar futebol num gramado que tinha na frente de casa”.

Aos 18 anos, conseguiu um emprego na Prefeitura de Morada Nova e, durante sete anos, trabalhou como office boy, porteiro e em serviços gerais. Futebol era uma de suas paixões e chegou a jogar no time da cidade como atacante. “Eu era uma espécie de Ronaldo Fenômeno”, ele garante em tom de brincadeira. Uma lesão no joelho o tiraria dos gramados algum tempo depois.

 

 

Lúcio com a mulher, Andréia, e as filhas Letícia, Rafaela e Ana Laura.

 

A vida mudou quando seu pai faleceu, vítima de câncer no baço, e Lúcio viu a tristeza tomar conta de sua mãe. Os dois decidiram então se mudar para Vazante, a 300 quilômetros de distância, onde quatro de seus irmãos já viviam, e lá iniciaram vida nova. Trabalhou em um supermercado e depois como vendedor de loja até se candidatar a uma vaga na Quatá e ser contratado como auxiliar de produção. Está na empresa há onze anos e hoje atua na operação da caldeira. Muito querido pelos colegas, pede para deixar a eles uma mensagem de segurança neste seu perfil: “Nada é tão urgente nem tão importante que não possa ser feito com segurança”.

 

“Nada é tão urgente nem tão importante que não possa ser feito com segurança”.

 

Quando ainda vivia em Morada Nova, Lúcio teve um relacionamento que durou pouco tempo, mas gerou um de seus grandes orgulhos na vida, a filha Letícia, de 16 anos. Em Vazante, pouco antes de entrar na Quatá, conheceu a esposa, Andréia, hoje professora de matemática e ciências. O casal tem duas filhas: Rafaela, de 9 anos, e Ana Laura, de 6. Há três anos, a família alcançou uma conquista importante ao comprar a casa própria e sair do aluguel.

Quando não está no trabalho, Lúcio gosta de ficar em casa com a família e brincar com as filhas. Nos últimos tempos, as meninas têm feito vídeos de dancinhas para o aplicativo TikTok, que virou febre entre as crianças, e ele às vezes tenta fazer parte da coreografia. “Geralmente, elas me expulsam”, ele diz. “Mas às vezes eu consigo aparecer no fundo de uma dança.”

Lúcio também gosta de contar piadas para os amigos. Uma recente? “Um ladrão fanhoso e seu comparsa combinam de roubar uma galinha de uma casa com muro alto”, ele começa. “Então, o fanhoso pula o muro e pisa em cima de um pato, que dá um berro: quá. Do outro lado do muro, o comparsa responde: pega qualquer uma, pô.

Lúcio termina de contar a piada e comenta: “É ruinzinha, eu sei, mas faz sucesso. Acho que o pessoal ri pela amizade”.