A História dos Sócios

Como a história dos sócios, as estratégias que eles adotaram e o apoio de um time dedicado ao negócio construíram a trajetória vencedora da Quatá

 

No início, eram dois sócios. O paulista José Henrique Zorzetto Coutinho, recém saído de uma sociedade em outro laticínio, na qual tinha cerca de 10% de participação, convidou o seu braço direito na antiga empresa, o paranaense Feliciano Guerra Neto, o Shel, para ser seu parceiro em um novo negócio. E no dia 16 de julho de 1990 nascia a Quatá. Com uma pequena fábrica no município paulista de Teodoro Sampaio, na divisa com o Paraná, cerca de 16 funcionários e capacidade para processar 3 mil litros de leite por dia.

Trinta anos depois, o resultado fala por si. Com outros sócios incorporados ao negócio ao longo do tempo, que trouxeram investimentos e competências complementares, a empresa possui hoje sete fábricas em quatro Estados, emprega mais de 1.600 colaboradores e processa 1,1 milhão de litros de leite diariamente – um número 360 vezes maior do que o volume inicial.

Como foi possível crescer tanto nesse período? Qual é a receita vencedora dessa trajetória de sucesso? A resposta é uma combinação de diferentes ingredientes, com destaque para as histórias de vida e de dedicação ao trabalho dos sócios; a obsessão por qualidade; algumas decisões estratégicas que se mostraram acertadas, como ampliar o mix de produtos, entrar no segmento de UHT e desenvolver o canal de vendas do varejo; além dos valores que eles imprimiram à empresa, como o controle rigoroso de custos, o combate ao desperdício e o cumprimento dos compromissos assumidos. “Nunca atrasamos um dia o pagamento de salário e de fornecedores”, conta José Henrique.

Os sócios citam também outro elemento essencial para o sucesso da Quatá: a dedicação de cada colaborador. “O nosso grande diferencial, sem dúvida nenhuma, é o espírito da nossa equipe”, aponta o sócio e diretor comercial Maurício Franco. “São pessoas dedicadas, motivadas para fazer sempre o melhor.”

 

Exemplo que vem de cima

A história dos sócios é uma grande inspiração para todos. O fundador e presidente, José Henrique, é um exemplo. Filho de um mecânico de máquinas agrícolas, teve sua primeira carteira assinada aos 11 anos de idade, em uma oficina de conserto de máquinas de calcular, e nunca mais parou de trabalhar. Começou no setor de laticínios como funcionário de um depósito de queijos que pertencia a um tio e foi assumindo responsabilidades cada vez maiores, sempre à custa de muita dedicação. Em 1981, tornou-se sócio minoritário de um primo no laticínio Ipanema, de onde saiu em 1990 para montar a Quatá.

O sócio Shel, filho de trabalhadores rurais, começou a ajudar a família na roça aos 5 anos de idade. Aos 8 anos, caminhava todos os dias dez quilômetros para ir e outros dez para voltar da escola. “Saía de casa às 5h da manhã para chegar na escola às 8h”, ele lembra. Na adolescência, foi boia-fria, engraxate, vendeu coxinha nas ruas e aprendeu o ofício de pedreiro até fazer uma obra no Ipanema e ser convidado a trabalhar como auxiliar de escritório na empresa. “Mas eu fazia de tudo”, ele lembra. “Abria a fábrica, limpava banheiro, ajudava na produção. Sempre gostei muito de aprender a fazer coisas novas e a resolver problemas. Com o tempo, fui ganhando a confiança dos donos.” Quando José Henrique deixou a Ipanema para fundar a Quatá, o levou junto.

A chegada dos outros sócios foi ocorrendo ao longo dos primeiros oito anos. Carlos Borges, que era um parceiro de negócios e atuava na distribuição de queijos, veio fortalecer esse ramo da empresa, que em 1993 inauguraria a fábrica de Mercedes, no Paraná. Em seguida, Luiz Carlos Coutinho, irmão do fundador, entrou para cuidar do departamento financeiro.

Em 1998, o braço industrial ganharia forte musculatura com o ingresso de Maurício e de José Amâncio Taveira, que trouxeram para a Quatá quatro fábricas em Minas Gerais, incluindo as unidades de Vazante e de Douradoquara, com a empresa até hoje.

 

“Nós temos uma das melhores equipes do mercado de laticínios. Pessoas comprometidas com o trabalho, que gostam da empresa, acreditam no que fazem.”

 

O quadro se completa com a sócia Elaine Navarini, ex-esposa de José Henrique, que teve papel importante no apoio e equilíbrio do dia a dia junto ao negócio.

O bom relacionamento entre os donos é um dos pontos fortes da empresa. “É difícil uma sociedade com tantas pessoas que dá tão certo”, diz Maurício. “No nosso caso, além de nos complementarmos, somos pessoas que se acreditam e se respeitam.”

Shel concorda: “Sempre tivemos um objetivo comum, que é o desenvolvimento da empresa. Não temos a pretensão de um brilhar mais do que o outro. Claro que em muitos momentos temos divergências de opinião. Nesses momentos, debatemos, focando a discussão sempre no problema que estamos tratando e nunca nas pessoas. Quando a decisão é tomada, quem foi voto vencido passa a trabalhar pelo sucesso da decisão vencedora. Afinal, o objetivo de todos é o mesmo: ver a empresa cada dia mais forte.” Dos sete sócios, quatro continuam atuando no dia a dia da empresa: o presidente José Henrique, o diretor financeiro Luiz Carlos, o diretor industrial Shel e o diretor comercial Maurício.

PONTOS FORTES DA EMPRESA

Fábrica Quatá Teodoro Sampaio

Fábrica de Teodoro Sampaio / SP – Onde tudo começou

 

Quando a Quatá começou, muitos laticínios focavam sua atuação na fabricação de queijos de alto consumo e pouca diferenciação. Basicamente, mussarela e prato. E vendiam esses produtos principalmente no atacado, por preço de commodity. A empresa decidiu tomar outro rumo, investindo em novos tipos de queijo e formando equipes para atuar com vendas no varejo. “Começamos a diversificação por tipos como frescal, ricota, prato lanchinho e minas padrão”, lembra José Henrique. “Depois, fomos incorporando ao mix os queijos especiais, como gouda, estepe, esférico (bola), gruyère, ementhal, gorgonzola e brie”.

Embora bem mais trabalhosa, a estratégia de produtos diferenciados e foco em varejo permitiu atuar em segmentos de melhor preço e deu grande impulso ao crescimento da Quatá. Outra decisão que se mostraria acertada foi a de passar a fabricar também leite UHT e outros produtos da chamada linha seca, que dispensam refrigeração, como leite condensado, creme de leite e achocolatados. “Nosso foco até aquele momento eram os queijos, então essa acabou sendo uma quebra de paradigma muito importante na trajetória da empresa”, conta o sócio Maurício.

A estreia ocorreu com o arrendamento da fábrica de Campo Belo (MG), em 2010, que anos depois seria adquirida pela Quatá. Em 2012, além da incorporação da fábrica de Bom Jesus dos Perdões (SP), foi dado um passo ainda mais ousado: a compra da marca Glória e da fábrica de Itaperuna (RJ), um dos marcos mais importantes da história da Quatá.

O presidente José Henrique recorda a sensação que teve no dia em que entrou pela primeira vez nessa fábrica, cuja área total, de 66 mil metros quadrados, era mais de dez vezes maior do que a da maior fábrica da Quatá. “Era diferente das nossas fábricas de queijo, que a gente começava pequeno e depois fazia um puxadinho aqui, outro puxadinho ali, reformando de acordo com as necessidades de produção”, ele conta. “Itaperuna já tinha sido projetada para ser uma grande fábrica.” A negociação trouxe junto também uma dívida de R$ 50 milhões, elevada para o porte da Quatá naquela época – mas a aquisição levou a empresa para um novo patamar, bem mais alto, e esse valor pôde ser pago com os novos lucros gerados.

O bom relacionamento entre os sócios e a adoção de estratégias de negócios acertadas foram muito importantes na trajetória da Quatá. Mas os sócios atribuem grande parte do sucesso à qualidade e ao comprometimento dos colaboradores. “O que faz a diferença em qualquer negócio são as pessoas”, afirma o presidente José Henrique. “Nós temos uma das melhores equipes do mercado de laticínios. Pessoas comprometidas com o trabalho, que gostam da empresa, acreditam no que fazem. Tenho muita satisfação e muito orgulho de ter ainda hoje conosco pessoas que estão praticamente desde o começo, que dedicaram a vida trabalhando com a gente.”

E o presidente conclui: “Se você conseguir ter pessoas motivadas, pessoas certas nos lugares certos, e fizer com que essas pessoas continuem ao longo do tempo te apoiando, acreditando na empresa, trabalhando por isso, não tem como dar errado.”