Desde criança na mesma fábrica de leite

Na infância, Fuminho acompanhava o trabalho do pai na indústria em que acabaria fazendo sua carreira profissional.

 

Quando a Quatá assumiu a fábrica de leite de Campo Belo (MG), um morador da cidade que havia trabalhado naquela unidade durante treze anos tinha acabado de mudar de profissão. Enilson Venâncio, mais conhecido pelo apelido de Fuminho, estava começando como motorista de caminhão.

A mudança havia sido contra a sua vontade. A relação com aquela indústria vinha da infância: seu pai também trabalhara ali, quando a empresa se chamava Cacisa, em serviços de recepção, pasteurização e envase de leite em saquinhos. Por muitos anos, a família viveu em uma moradia de funcionários que ficava no mesmo terreno, e era comum Fuminho passar horas ao lado do pai no trabalho. “Naquela época, não existia todo esse controle que tem hoje”, conta.

Anos mais tarde, depois de ter passado por empregos em lanchonete, marcenaria e numa cerâmica, ele ingressou na mesma fábrica, que então pertencia à cooperativa Cemil, e seguiu uma carreira de início semelhante à do pai: recepção, pasteurização e envase – agora já em modernas máquinas de leite UHT.

Mas Fuminho era um operador de máquinas com uma característica especial: quando o equipamento quebrava, ele gostava de acompanhar e ajudar a equipe de manutenção a consertá-lo. Até que um dia recebeu um convite para integrar a equipe de manutenção e descobriu sua grande vocação. Infelizmente, porém, a empresa não ia bem, e depois de algumas trocas de donos demitiu os funcionários e encerrou as atividades. Foi então que ele decidiu tentar a vida como motorista.

Nas mãos da Quatá, a fábrica voltou a crescer, e no final de 2010 ele foi convidado a retomar a manutenção das máquinas que conhecia tão bem. “Ao todo, já faz mais de 25 anos que eu trabalho aqui”, contabiliza Fuminho, que deve esse apelido a um palhaço de circo chamado Fumo, que ele viu na infância e passou a imitar.

 

“Nós costumamos sair de cavalo à noitinha, ir até perto de uma cachoeira, parar, queimar uma carne, tocar uma viola e voltar já no começo da madrugada. Nesses dias, eu recarrego todas as minhas energias.”

 

 


Em um passeio de cavalo para recarregar as energias

 

Um dos momentos mais marcantes de sua carreira ocorreu em 2013, quando a Quatá trocou o maquinário de envase de UHT e ele foi enviado à Alemanha para receber treinamento na manutenção dos novos equipamentos. “Foi uma experiência inesquecível”, ele conta. “Até então, eu nunca tinha voado de avião.” Hoje, ele participa de um grupo de funcionários de manutenção de diferentes fábricas da Quatá que se reúnem periodicamente para atuar conjuntamente na revisão das máquinas das unidades que utilizam esses equipamentos.


Na viagem à Alemanha, com os colegas da Quatá, brincando com um boneco de neve

 

Casado com a ex-vizinha Ana Paula, ele é pai de Guilherme, de 21 anos, e Gustavo, de 14. O mais velho fez ensino médio de nível técnico em mecatrônica e atualmente cursa faculdade de engenharia na mesma área, à noite, na cidade de Lavras, que fica a 62 quilômetros de Campo Belo. Durante o dia, faz estágio também na Quatá, representando assim a terceira geração dos Venâncios a trabalhar na mesma fábrica.

A família é muito unida. Além de frequentarem juntos a Igreja Evangélica Quadrangular, eles costumam passar os fins de semana juntos em um sítio que Fuminho comprou em sociedade com um primo, onde tem também uma pequena criação de gado de corte, atualmente com quinze cabeças, e alguns cavalos. Uma paixão que ele divide com os filhos e outros amigos e familiares são os passeios a cavalo – muitas vezes, noturnos.“Nós costumamos sair de cavalo à noitinha, ir até perto de uma cachoeira, parar, queimar uma carne, tocar uma viola e voltar já no começo da madrugada”, ele descreve. “Nesses dias, eu recarrego todas as minhas energias.”