O caminho que o levou longe

Como a carreira de queijeiro deu rumo à vida do coordenador de produção da fábrica de Vazante, Vagner Alves.

Houve um tempo, por volta de 2004, em que o hoje coordenador de produção da fábrica da Quatá de Vazante, Vagner de Carvalho Alves, achava que sua vida não estava andando para a frente. Ele vivia na pequena Serranos, cidade de 3 mil habitantes no sul de Minas, tinha concluído o ensino médio e, por três anos, vinha estudando por conta própria para tentar passar em concurso público ou em vestibular para curso técnico ou faculdade, sem sucesso.

Durante os últimos cinco anos, sua rotina consistia em acordar de madrugada e rodar toda a cidade carregando uma cesta com os pães da padaria em que trabalhava como vendedor ambulante. “Caminhava uns 10 quilômetros por dia, entre 5h30 e 10h da manhã, vendendo pão”, ele recorda. No tempo livre, estudava, cuidava do seu “cavalinho pé duro”, como ele descreve o animal que mantinha para fazer passeios pela zona rural, e se encontrava com os amigos que ainda permaneciam na cidade e com a namorada, Charlene. “Eu via as pessoas ao meu redor progredindo e a minha vida parada”, ele lembra.

Já tinha decidido sair de Serranos para tentar qualquer emprego numa cidade maior quando, na segunda tentativa conseguiu ser aprovado no curso técnico em laticínios em Juiz de Fora, situada a 170 quilômetros de Serranos. E Vagner encontrou o seu caminho.

Não escolheu essa carreira por acaso. Quando Vagner era criança, seu pai trabalhava em um laticínio que funcionou durante muitos anos na cidade, até ser fechado. “Eu ia muito lá”, ele conta. “Costumava levar marmita para ele ou então ia buscar o leite que os funcionários ganhavam.”

Para se manter em Juiz de Fora durante os dois anos do curso, Vagner contou com a ajuda inicial de amigos e com contribuições constantes da irmã mais velha, Lucilene Alves, sua grande incentivadora nos estudos, e do seu ex-cunhado Manoel Landim, técnico em laticínios. “Minha irmã só me pediu uma coisa em troca”, ele recorda. “Que eu fizesse o mesmo pelo nosso irmão mais novo quando chegasse a vez dele de fazer faculdade.” Ele também fazia bicos de trabalhos na roça geralmente com o pai, nos finais de semana, como plantar cana, capinar mato e fazer cerca.“Como grande lembrança e muita satisfação, guardo até hoje um radinho de pilha usado que ganhei do meu pai durante o curso”, ele conta.

 

 

Vagner com a esposa, Charlene, e os filhos Vagner Henrique e Ana Luiza.

 

Aluno dedicado, foi indicado por um professor e pela gerente da fábrica Mara Landim para um estágio na Quatá de Vazante ao terminar o curso, em 2007, e, embora não tenha sido contratado após o estágio por falta de vaga, alguns meses depois receberia convite para trabalhar na unidade de Douradoquara, em uma linha de produção que mais tarde seria transferida para Vazante. A sensação de estagnação tinha ficado para trás.

E as conquistas se acumularam desde então. O emprego lhe deu condições de propor casamento a Charlene, depois de anos de namoro a distância, e com ela formou a família que hoje inclui os filhos Vagner Henrique, de 6 anos, e Ana Luiza, de 3.

Além disso, pôde comprar carro, financiar uma casa de três quartos em Vazante e comprar um terreno em sua Serranos, situada a 670 quilômetros de distância, onde está construindo uma casa para, no futuro, reunir sua família e a da esposa em festas de fim de ano e outras ocasiões. Para apoiar seu crescimento profissional, Vagner voltou à sala de aula para cursar faculdade de administração de empresas, e também cumpriu a promessa feita à irmã de ajudar o caçula a fazer faculdade. Seus pais, que só estudaram até a quarta série do primário, hoje têm o orgulho de ver os três filhos com ensino superior.

 

“Caminhava uns 10 quilômetros por dia, entre 5h30 e 10h da manhã, vendendo pão. Eu via as pessoas ao meu redor progredindo e a minha vida parada.”

 

 

Vagner com os irmãos Luís Carlos e Lucilene

 

“Família para mim é tudo”, resume o coordenador de produção da Quatá, que hoje dedica a maior parte do seu tempo livre aos filhos. Nas horas vagas, ele também aproveita suas habilidades em trabalhos manuais com madeira para fazer brinquedos para os filhos. “Quando o Vagner Henrique nasceu, eu trabalhava de dia e fazia faculdade à noite, então não tive muito tempo nos primeiros anos. Agora, procuro compensar ficando o máximo possível perto deles”, ele justifica.