O casal focado e a terrorista

Alem e Poliana têm planos muito bem traçados. Já a nova integrante da família veio para bagunçar tudo

 

Há três meses, o dia a dia na casa do líder da área da ETE (Estação de Tratamento de Efluentes) da fábrica da Quatá em Bom Jesus dos Perdões, Alem Santana de Oliveira, de 25 anos, tornou-se um tanto imprevisível. O motivo atende pelo nome de Mel, uma cachorrinha que ele adotou imaginando tratar-se de uma vira-latas, mas que se revelou uma legítima Rottweiler. “De doce ela não tem nada, na verdade, ela é um terror”, diz Alem. “Roeu toda a máquina de lavar e tivemos que comprar uma nova”.

Mas ele não reclama. Sua vida vem caminhando bem em todos os sentidos. Alem nasceu em Jussari, no interior da Bahia, e se mudou com a família para Piracaia, cidade vizinha a Bom Jesus, ainda na infância. Viveu até a adolescência no sítio em que seus pais trabalhavam como caseiros e, aos 17 anos, saiu de casa com o irmão, Adiel, para morar na área urbana do município. Ambos foram trabalhar em uma fábrica de calçados e, agora, continuam juntos na Quatá, o irmão como operador na área de concentração.

Alem é um jovem focado nos estudos e em seus objetivos. Após o ensino médio, fez curso técnico de segurança do trabalho, com um ano e meio de duração, e de gestão ambiental, de dois anos. Este último o habilitou a deixar o cargo de porteiro da Quatá para a função atual na área da ETE.

 

Cachorra Mel

 

 

Foco também foi o que o fez conhecer Poliana. Tudo começou quando ele viu uma foto da futura esposa no Facebook da cunhada. “Primeiro, eu dei aquela stalkeada básica”, ele conta, usando a gíria de origem inglesa para o ato de investigar a vida de uma pessoa nas redes sociais e outros locais em busca de fotos e informações. “Então, mandei uma mensagem pelo próprio Face, mas ela não respondeu. ”Alem descobriu o endereço da loja de cosméticos em que Poliana trabalhava, na também vizinha Atibaia, e deu uma passada na loja como quem não quer nada para vê-la de perto sem ser notado. Alguns meses depois, mandou um WhatsApp, recebeu resposta e, no dia 8 de novembro deste ano, completam o primeiro aniversário de casamento.

Inspirada no exemplo e nos conselhos do marido, Poliana, que havia trancado a matrícula na faculdade de gestão de RH, voltou a estudar. E Alem quer ir mais longe. “Pretendo cursar engenharia ambiental”, revela.

Ele também demonstrou determinação ao ingressar na Congregação Cristã do Brasil e se candidatar para tocar violino na orquestra da igreja. Foi autorizado, desde que fizesse o curso preparatório aos sábados. Depois de um ano e meio de aulas teóricas, fez um ano de aulas práticas e continua estudando, mas, uma vez por mês, já participa da orquestra que acompanha os cultos da igreja.

Os planos para o futuro já estão desenhados. Há um ano, o casal adquiriu um terreno, incluindo a planta para construir um belo sobrado, e a obra está prevista para começar em 2021. “Decidimos, em vez de dar festa de casamento, usar o dinheiro para comprar um terreno e construir nossa casa”, ele conta. “Pelo nosso planejamento, a obra deve estar concluída daqui a sete anos.”

 

Alem com os pais, Rondinelis e Cleide, em sua formatura no curso de gestão ambiental

 

A ideia é esperar sair do aluguel e se instalar na casa própria para então ter filhos. Até lá, a rotina doméstica de Alem deve continuar contando apenas com ele, Poliana, a terrorista Mel e os móveis que sobrarem na casa.

Para um futuro ainda mais distante, ele pensa em ter um negócio próprio, possivelmente uma loja de pneus e serviços automotivos, ramo em que Poliana trabalha atualmente. A concretização está longe, mas ele admite que já anda stalkeando as lojas concorrentes em busca de informação e inspiração.